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Semana de 4 dias: o que é e como funciona?

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(Foto: Isaque Martins)

Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria

A semana de trabalho de 4 dias refere-se a uma estrutura na qual os empregados
trabalham um total de quatro dias por semana, em vez dos tradicionais 5. Em alguns
casos, significa trabalhar 4 dias mais longos, enquanto em outros envolve a redução do
total de horas trabalhadas semanalmente para 32 horas, ao invés das tradicionais 44
horas.
 
Em tese, a ideia da semana é tornar a hora trabalhada mais cara, porém mais
produtiva. Um bom exemplo é pensar num empresário que possui 10 colaboradores e
gasta R$100.000,00 mensais com salários e benefícios. Dessa forma, ele adquire 1.760
horas trabalhadas por mês, por esse valor, pagando R$56,82 pela hora trabalhada.
 
Nessa mesma empresa, sua produção mensal é de 1000 peças. Assim, só de mão de
obra, sua peça terá um custo de 100 reais. Dessa forma, se a equipe conseguir produzir
as mesmas peças, mas trabalhando apenas 4 dias, o aumento de produtividade
compensaria o maior valor pago por hora trabalhada.
Analisando em um parágrafo,
parece simples, concorda, caro leitor?
 
Como surgiu o conceito?

As discussões sobre a redução da jornada de trabalho não são novas. No início do
século XX, à medida que a Revolução Industrial avançava e a mecanização aumentava,
houve movimentos para reduzir as jornadas. Naquela época, elas podiam ser
extremamente longas, frequentemente durando 10-16 horas por dia.
 

Em meados do século XX, muitos países industrializados adotaram a jornada de
trabalho de 40 horas como padrão. Isso foi o resultado de anos de campanhas de
sindicatos e trabalhadores para melhores condições aos profissionais. No entanto,
mesmo após a adoção da semana de 40 horas, a ideia de reduzir ainda mais essa carga
permaneceu. No Brasil, a jornada foi estabelecida em lei pela Constituição Federal, em
seu art. 7.º, como sendo de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Este é o limite
máximo para o trabalho normal.
 
Nas últimas décadas, com o avanço da tecnologia e a automação, surgiram debates
sobre a possibilidade de reduzir ainda mais a semana de trabalho. Estudos sugerem
que trabalhar menos horas pode aumentar a produtividade, reduzir o estresse e
melhorar a saúde mental e física dos trabalhadores.
 
Em vários lugares ao redor do mundo, empresas e até mesmo governos locais
começaram a experimentar a semana de trabalho de 4 dias. Por exemplo, a Nova
Zelândia realizou um experimento em que os funcionários trabalhavam 4 dias por
semana, mas recebiam o salário de 5. O experimento foi considerado um sucesso,
pois a produtividade se manteve e os trabalhadores relataram melhor equilíbrio
entre trabalho e vida pessoal.

 
Qual o desafio para o conceito pegar?

O problema começa quando vamos para os aspectos práticos da vida. Empresa em que
a demanda é constante todos os meses não existe. Como também desconheço
aumento de produtividade sem investir consideráveis somas de dinheiro em
equipamentos, sistemas, treinamento e automação. Além disso, há indústrias em que
é vital ter colaboradores disponíveis 5 dias por semana ou mais. Implementar uma
semana de 4 dias sem a devida rotação pode levar a lacunas na cobertura.
 
Além disso, para a produtividade aumentar será necessária uma profunda revisão dos
processos e dos sistemas envolvidos no dia a dia da empresa para garantir o melhor
fluxo. Em uma jornada reduzida, o tempo dedicado a pausas e atividades que não
agregam valor será menor. Reuniões desnecessárias terão de ser abolidas;
alinhamentos e retrabalho, reduzidos, esperando-se melhor preparação e capacitação
das pessoas.
 
Para concluir, acho o conceito interessante e possível, haja vista que 83% dos
profissionais no país dizem fingir que trabalham para parecerem ocupados.
Se quem
finge diz que o faz quase metade do tempo, temos um universo de 22 horas
disponíveis para aumentar a produtividade. Para isso, a gestão terá de mudar a forma
dos colaboradores trabalharem e fazer algo mais desafiador: mudar o mindset.
Possível chegar na semana de 4 dias? Sim. Fácil? Não, pois se fosse, já estaríamos nela.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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